Conheça o perigo de consumir água sem tratamento e proveniente de captações superficiais como a do Poço Caipira
Muito comum no meio rural, o poço “caipira”, também chamado de cacimba ou cisterna é aquele perfurado manualmente, com diâmetro em torno de um metro, e profundidade variável, até encontrar água. São poços rasos que visam a captação de água subsuperficial do lençol freático, que é a reserva mais próxima da superfície, sem atravessar a camada impermeável, sendo esta principal diferença entre eles e os poços artesianos. Apesar de possuir um custo mais baixo, em comparação ao artesiano, o poço caipira apresenta um grande risco de contaminação. Isso porque, para evitar que sejam afetados por um escoamento superficial, o que é muito fácil de ocorrer, esses poços precisam de um enorme cuidado na escolha do local de sua perfuração (afastados das áreas de riscos), além de cuidados redobrados em proteção, no que inclui revestir o poço internamente; construir, ao seu redor uma proteção, que é chamada de selo sanitário; construir uma parede circular ao redor do poço, acima da superfície do solo; e cobri-lo com uma tampa (metálica, de madeira, de plástico ou de concreto).
“A transmissão das doenças pode acontecer de diversas formas, tanto pela ingestão direta da água contaminada, pelos alimentos que entraram em contato com água imprópria…”
Porém, seguir esses procedimentos de segurança não costuma ser regra, especialmente nos espaços urbanos, com a crise hídrica que o Brasil está enfrentando. Em muitas cidades, com os altos índices de queda nos reservatórios que abastecem os principais estados deste país, a preocupação da população com a iminente falta de água só cresce. Diante da perspectiva nada otimista de uma temporada de chuvas que resolva a situação, muita gente tem optado por reativar poços desativados ou perfurar novos poços no quintal de casa. Por conta disso, a cada dia, mais e mais poços caipiras são construídos, de maneira crítica e desordenada, fornecendo água imprópria para consumo humano, ou então são reativados poços usados antes da implantação da rede de esgoto. No caso de perfurações deste tipo em áreas urbanas, a probabilidade de água contaminada e imprópria para consumo humano é ainda maior. Há um enorme risco de se acabar retirando água contaminada por esgoto, por exemplo. Além disso, um poço ainda pode interferir no outro e deixar a água contaminada, podendo ainda essa água contaminada, de alguma forma contaminar a água mais profunda, do aquífero. Por conta de ser uma alternativa mais barata, a corrida para a construção de poços escavados rasos parece ser um fenômeno mais comum nas áreas periféricas e pobres das cidades, em lugares onde a água já faltava nas torneiras. Nesse cenário, ainda existem empresas irregulares que prometem realizar essa perfuração com “segurança”, porém, contratá-las está muito longe de significar que o usuário esteja protegido. Isso porque elas perfuram somente até a altura do lençol freático, sem alcançar o aquífero, uma obra muito mais complexa, que só pode ser realizado por empresas devidamente certificadas, e que exigem a autorização do departamento de água do Estado. Neste cenário caótico e emergencial, um poço barato, que oferece uma água aparentemente potável, parecer ser a melhor solução para todos. Mas não é. Entenda agora os perigos do consumo de água sem tratamento:
Perigos do consumo de água sem tratamento
A maioria das doenças transmitidas pela água são causadas por microrganismos existentes em reservatórios de água doce contaminada, normalmente, por fezes humanas ou de animais. E não se engane porque os riscos são invisíveis! Até a água mais cristalina, pode estar contaminada e oferecer sérios riscos à vida humana. Para se ter uma ideia, apenas uma grama de fezes pode conter cerca de 10 milhões de vírus, 1 milhão de bactérias ou até 1000 parasitas. Diluída em seu reservatório de água, esta ameaça é praticamente indetectável, especialmente a olho nu. A transmissão das doenças pode acontecer de diversas formas, tanto pela ingestão direta da água contaminada, pelos alimentos que entraram em contato com água imprópria e em alguns casos até o contato com a pele pode gerar riscos. Ainda assim a ingestão é a forma mais comum de contaminação. Listamos abaixo algumas doenças causadas por microrganismos presentes na água contaminada:
- Hepatite A
- Diarreia Infecciosa
- Amebíase
- Cólera
- Ascaridíase
Como prevenir esse risco?
Verificar a potabilidade da água significa analisá-la para saber se o consumo é seguro, ou seja, se a ingestão da água pode ou não trazer riscos à saúde do consumidor. Toda água destinada ao consumo humano deve obedecer aos padrões de qualidade estabelecidos na Portaria 2914 do Ministério da Saúde. Segundo essa Portaria, a verificação da potabilidade é dividida em classes de análises, sendo as mais frequentes as análises físico-químicas da Tabela de padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúde e as análises bacteriológicas do da Tabela de padrão microbiológico da água para consumo humano. A análise bacteriológica identifica possíveis infestações por microrganismos através da análise de indicadores. Para isso a portaria aponta a necessidade de análises periódicas que irão garantir a sanidade da água proveniente da rede hidráulica, poço ou fonte servindo, também, para indicar o momento propício para limpeza das caixas d’água. O controle de qualidade microbiológica da água é usualmente realizado através da pesquisa de bactérias do grupo coliforme, cuja presença evidencia o risco da existência de organismos patogênicos. Além disto, é de fundamental importância que se mantenha sob controle a população bacteriana geral da água. Densidades muito elevadas de microrganismos podem determinar a deterioração da qualidade da água, com o desenvolvimento de odores e sabores desagradáveis e a produção de limo ou películas. Este controle é bastante eficiente para avaliar as condições higiênicas da rede de distribuição e dos reservatórios d’água. Atualmente a perfuração de poços artesianos tem sido uma alternativa para adquirir água potável. Um poço artesiano retira água de reservas subterrâneas encontradas no solo e nos espaços entre as rochas. Em sua maioria, a água extraída lá debaixo é mais pura e com maior porcentagem de sais minerais. Porém, é necessário contratar uma empresa para instalação, que siga rigorosamente a legislação vigente e as normas técnicas aplicáveis, atendendo as exigências da Vigilância Sanitária e da legislação específica estadual a que se refere a perfuração de poços. A legislação exige o monitoramento regular da qualidade da água de poços artesianos, e, portanto, a sua limpeza frequente. A Política Estadual de Recursos Hídricos visa a assegurar o controle, pelos usuários atuais e futuros, do uso da água e de sua utilização em quantidade, qualidade e regime satisfatórios. Sendo assim, se você pretende ter um poço artesiano, é preciso se preocupar em garantir a qualidade da água mantendo-a sempre dentro dos padrões exigidos. Além da limpeza do poço artesiano, o que garante a consequente higienização da água extraída, é importante realizar ainda as análises químicas periódicas para avaliar em quais condições a água que será destinada ao consumo humano se encontra.